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"Eu ando sempre com os meus mortos todos atrás e com as palavras penduradas. As ditas e as por dizer. Há, entre os meus mortos, aqueles a quem disse tudo e aqueles que se me morreram sem que a urgência da palavra tivesse rompido, entre um beijo e outro de despedida, uma promessa de um café.

(...)

Só se percebe a urgência de dizer “Amo -te” quando já não é possível dizer outra vez.  Que aprendizagem mais brutal e descabida. Depois da morte dos nossos mortos, queremos respirar e com a dor não conseguimos e só pensamos no momento em que devíamos ter dito e não dissemos, como naquele outro filme de dois amantes em Paris: num barco a passear pelo Sena, há um momento em que o sol por momentos se descobre e é preciso dizer “Amo -te” senão a outra pessoa vai seguir (como eu depois de ter comido a bolacha no banco de jardim).

A nuvem passa. O segundo termina. As palavras não saem. Um instante que podia mudar tudo. Um instante, uma palavra, uma vida. Que brutalidade.

(...)

Para sempre, como na música dos “Xutos e Pontapés”. Como no romance do Virgílio Ferreira.

Para sempre. Diz -lhe agora."

Isso.

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