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Eu sou dos que gostam. 
Dos que defendem a enfermagem com unhas e dentes e que amam, verdadeiramente, o que fazem. 
Dos que não se vêm a fazer outra coisa, se não cuidar. 
Dos que recebem com um sorriso mesmo quando tive uma noite má ou quando tenho os miúdos doentes. 
Mas começa a ser difícil quando nos ficamos deparando com tantas bestas. Começa mesmo a ser difícil quando sentimos que somos sempre os totós, sempre os sacos de boxe. 
Tivemos um ano de merda. Todos. 
E nós, profissionais de saúde, tivemos um ano de muita merda. Foi um ano mau. Para todos! Enfermeiros, médicos, auxiliares, técnicos. Todos! De pediatria á geriatria. Tudo foi complicado. Mesmo quando não havia nada para fazer. Tivemos de nos reinventar. Mudar a forma de trabalhar. Criar circuitos. Inventar alternativas. Modificar rotinas. Alterar formas de pensar e de actuar. Tivemos de enfrentar o desconhecido, sem saber muito bem o que esperar. Sem saber o que estávamos a fazer bem e sem saber onde estávamos a errar. 
Fizemos o percurso para o hospital de lágrimas nos olhos. E regressámos sem saber o que trazíamos para casa. Foram meses a fio nisto. 
Quando todos estavam em casa a tentar ficar protegidos, tínhamos de fingir a nossa coragem e enfrentar o desconhecido. 
Agora tudo parece exagerado... Mas na altura nada se sabia. E foi difícil. Muito muito difícil. 
Por isso magoa muito quando somos, mais uma vez, tratados como totós. Principalmente por quem nos deveria defender sempre. Quem deveria lutar por nós. Por quem sabe bem as dificuldades. Por quem tanto sabe o nosso ordenado. 
O pedido de resiliência foi para a classe médica mas todos os profissionais a sentiram. 

                                                   25. Agosto. 2022

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